Você não pode sumir de onde nunca esteve

Eu não sabia que ia dar errado. Se soubesse não teria nem tentado. Decidi que não tenho mais idade para insistir no erro. Mas eu confesso que também não esperava que desse certo, não esperava nada. Estou vivendo um dos momentos mais egoístas da minha vida e preciso fazer mais uma confissão: estou adorando.


Pela primeira vez eu vivo assim, sem culpa. Eu também não fiz promessas, eu nunca faço promessas, não para os outros pelo menos. O meu silêncio, nesse caso, não pode ser confundido com consentimento. Admito que talvez eu tenha adoçado as palavras algumas vezes, mas como você espera que eu te trate, com alguma coisa menos que carinho?

A questão é que eu não sumi. Preciso que você entenda isso. Naquele dia que você me ligou bêbado, de madrugada, perguntando onde eu estava, eu pensei: isso vai dar merda. Mas nós não tínhamos colocados todas as cartas na mesa, eu não tinha deixado claramente expresso que eu nunca poderia ser a pessoa para quem você liga quando está bêbado.

Não que eu não me importe com você, mas eu não estava com você, eu não estava do seu lado. Esse deveria ter sido seu primeiro sinal. Você tentou enxergar além do que existia, mas nosso território só vai até onde os olhos podem ver, não temos superfícies além disso, porque nós nunca tivemos tempo e vontade de desbravar.

Claro que te dou um desconto, em um momento de embriagues, o mais latente desejo por sexo pode ser confundido com o mais inesperado arrebatamento romântico. Mas não vamos nos enganar, eu não poderia ter sumido, eu apenas nunca estive e nós não somos nada além do que realmente somos.