Pensarei em nós quando dezembro acabar

Não estou riscando mais os dias no calendário. Não estou me odiando no momento e só quero aproveitar essas semanas como se elas fossem as últimas. Sei que sempre compro a briga, mas desta vez vou te deixar ter razão e assentir com a cabeça enquanto você gesticula e sua voz ecoa no nosso quarto, que tem a cor errada e está bagunçado desde que eu desisti de tentar controlar tudo.
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Estou olhando diretamente para você, vendo a face de alguém que um dia eu amei, que talvez eu ainda ame, mas que agora eu só quero que cale a boca para que a gente possa ir para mais uma confraternização passar a noite falando com outras pessoas e na volta nos gabarmos da ótima noite que tivemos longe um do outro. Difícil de acreditar que essa era voz com a qual eu costumava ter uma ereção só de ouvir.

Agora estou apaixonado pelo som da notificação avisando que o motorista chegou e que temos menos de cinco minutos para descer as escadas. Você jamais continuaria a briga na frente de um estranho. Esse é um dos motivos pelos quais me apaixonei por você. E eu ainda amo o fato de que você vai puxar conversa com ele durante todo o caminho, porque isso é educado. E eu posso apenas olhar pela janela e apreciar a viagem.

Não estou preocupado que você vá beber e querer discutir mais depois. Minha meta é beber mais e fugir da peleja a todo custo. E não é possível que você não saiba que tem algo de errado nisso, talvez por isso você faça tanta questão. Mas a questão é que nós tínhamos concepções romantizadas de nós, um do outro, do nosso relacionamento. O que me traz de volta ao nosso filme predileto, E O Vento Levou.

E devo estar muito bêbado, olhando você conversar com aquele cara de quem eu sempre tive muitos ciúmes, mas agora só consigo pensar na Scarlett O'Hara dizendo "Não vou pensar nisso agora. Vou pensar nisso amanhã". E então percebi, que o que tenho evitado pensar é que assim como tenho aguardado dezembro chegar ao fim, o ano terminar, estou esperando a hora de pensar em nós. De perceber que já acabou e que, francamente, eu já não ligo a mínima.
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