Pronto para os bons tempos

Estava de cabeça baixa quando achei, por acaso, o bilhete. Corri para casa e peguei a mala guardada no armário. Senti o seu peso me sugar para baixo, como estava cheia. Comecei a esvaziá-la ao entardecer, terminei ao amanhecer. Foi uma noite em claro, avaliando a necessidade de cada item ali guardado.


Conclusão? Eu não precisava de nada da que vinha guardando há tanto tempo. Não eram bens, eram trecos, cacarecos, coisas sem utilidade. Perdi tanto tempo organizando aquela bagunça que poderia ter perdido a viagem, mas ainda era tempo.

Bati a porta da frente sem me importar com as prestações a vencer, a procura por emprego, o status de relacionamento nas redes sociais. Tudo que eu precisava estava comigo e eu corri, antes que fosse tarde, para não perder o embarque.


Não havia alguém para me despedir, mas muitas pessoas para dizer "Olá". O acaso era tudo que eu precisava, agora eu estava pronto, pronto para os bons tempos.

Leia também: Aprendendo a dizer sim