Mercadorias danificadas

Quando estamos olhando as prateleiras de uma loja ou supermercado, sempre procuramos o produto em melhor estado. Talvez não seja só ao fazer compras que temos esse costume. De uns tempos pra cá, talvez a gente venha fazendo isso em relacionamentos também, escolhendo a dedo aquele(a) que a gente vai levar para casa.


O que acontece é que a gente assume, muitas vezes, essa postura de consumidor, que tem direito de exigir padrão e qualidade, quando muitas vezes a gente não passa de mercadoria também, e será que podemos dar garantia de que não temos defeitos?

Quando iniciamos nossa vida afetiva, estamos livres de qualquer avaria, saídos de fábrica e prontos para uso. Conforme o tempo vai passando, as pessoas vão passando, os relacionamentos que deram certo por um tempo, e depois acabaram, vão passando e a gente fica com as marcas de uso e sinais de desgaste.

Então, se formos parar para pensar, não somos, todos nós, apenas mercadorias danificadas? Que uma vez ou outra deixamos nossos consumidores na mão? Magoamos seus sentimentos? Talvez por conta da expectativa superestimada deles ou por nossa própria inabilidade de fornecer o que prometemos, porque quando queríamos ser tirados da prateleira fizemos propaganda enganosa, exageramos nossos atributos?

Talvez, uma vez ou outra, a gente tenha parado de funcionar naquela hora mais necessária, ou tenha causado um grande mal por puro descaso com o consumidor. Por isso devemos ser retirados do mercado ou apenas torcer para que alguém ignore nossas falhas e decida nos levar para casa mesmo assim?

Dizem que mesmo um relógio quebrado acerta a hora duas vezes ao dia. Talvez seja assim também quando se trata de pessoas e relacionamentos, nem sempre acertam com a gente, nem sempre acertamos com os outros, mas isso não quer dizer que não possamos proporcionar a satisfação necessária para um consumidor também danificado, mas que faça bom uso.

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