Lugar para um

Essa não é minha primeira viagem assim, sozinho. Já estive assim antes, por mais tempo do que eu possa me lembrar. Acontece que, ao longo do caminho, alguns andarilhos querem se juntar a mim, pegar carona, aproveitar a viagem.


Não me entenda mal, adoro companhia, mas estou bem com a minha. Tenho me sentido confortável neste lugar, na janela, passando por tudo, analisando a paisagem, esperando minha vez de descer.

Não é como se eu não ficasse tentado a viver alguns momentos de prazer na estrada, às vezes me permito, afinal de contas, qual o problema em ter algumas histórias para contar?

Mas eu não permito que eles sigam viagem comigo, não permito que eles sentem ao meu lado. Porque eles não têm bagagem, seguem sem rumo, sem destino, entrando onde dá. O medo já foi motivo para isso, alguns já levaram algo de mim, mas hoje é só indisposição minha mesmo.

Pessoas sem bagagem não precisam arrumar nada antes de ir, elas vão e deixam a bagunça porque já estão prontas para ir, basta abrir a porta, sem se dar ao trabalho de fechar, e seguir um rumo qualquer. Eu quero seguir tranquilo, sentindo o vendo no rosto.

Vai chegar o dia, que alguém dirá “posso sentar, há lugar para mais um?” e minha reposta será sim, inexplicavelmente sim. Mas algo me diz que ainda preciso passar por algumas estações, porque na minha vida, no momento, só existe lugar para mim.

Leia também: Nova vida