Inferno interno

Quando acordou o céu ainda estava escuro, resistente aos raios de sol, intocado. Pela janela aberta entrava uma brisa fria, que provocou um arrepio. Suas pálpebras tremeram, entre abertas, naquela escuridão pareciam observar um cenário completamente abandonado.


Um campo de guerra depois de uma batalha perdida. Por fim, desistiram e se fecharam novamente e fez-se a escuridão. Mas o preto tinha pinceladas de cinza. Esfumaçadas e espalhadas sobre o mar de escuridão. 

A escuridão parece absorver tudo em volta. E cada parte desse tudo, antes tão singular, se camufla nessa escuridão. Pedaços pequenos se desprendem do céu, como gotículas de água. Boca aberta para saborear, mas é tudo seco.

Cinzas caindo do céu, vindas de um incêndio não muito longe. “Onde eu estou?” Chegou a pensar. Uma voz muito conhecida, tão conhecida que parecia ser sua própria voz, sussurrou “você está em você”. 

Suas crenças deixaram o ambiente e um sentimento, e somente um, tomou o lugar, o medo de acreditar. Seus lábios rachados, a língua seca e a garganta sedenta pediam por água. O fogo já passou, mas o calor permaneceu e aqueceu cada molécula do seu corpo. Ardendo demais para continuar ali, os olhos avistaram uma claridade ofuscante. 

O que era escuro já não é mais. Manchas verdes e rosas se misturam ao mesmo cenário de antes, agora iluminado pelos raios solares.  Não pôde evitar o clichê de pensar que o sonho era real demais. Com receio admitiu para si que talvez aquele lugar fosse o seu inferno, alojado no seu mais profundo pesadelo, contudo, às vezes, emergindo a realidade, trazendo à tona tudo o que deveria ficar enclausurado.

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