Morto-vivo

O cansaço aparente roía sua juventude, deixando em frangalhos qualquer ânimo repentino. A vida deveria ser mais excitante nessa idade, pensou. Mas não era.


O trabalho consumia suas energias e o tempo que lhe sobrava dedicava-se aos estudos de forma comprometida, mas um pouco negligente devido ao estado de esgotamento. 

Sentia um clima de tensão no trabalho nos últimos dias, ao que parecia que ou sentiria mais pressão ou não seria feita pressão alguma o que só podia significar uma coisa, demissão. Como a essa altura da vida sua vida parecia tão sem alternativas?!

Não ligava mais para sua aparência física, condição financeira ou qualquer outra banalidade. Sair sem rumo pelo mundo é uma ideia constante e tentadora. 

Não dava mais a mínima para conversa furada sobre qualquer que fosse o assunto como se aquilo pudesse lhe roubar alguma coisa, fosse seu tempo ou sua opinião. 

Afinal se importava muito com seu tempo, ainda mais ultimamente. E quanto à sua opinião, a quem essa poderia importar?! A opinião alheia o incomodava, mas não a ponto de incomodá-lo. 

Sentia o peso das horas arrastá-lo paras profundezas de um mar de marasmo, de repente sentiu que aquilo só poderia significar uma coisa. Logo a frente viria uma tempestade com seus grandes relâmpagos e redemoinhos. 

Isso não o assustava, na verdade, ele ansiava por isso na esperança de sentir algo diferente. De se sentir, quem sabe, vivo.

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