Saudade à venda

O que eu deveria fazer com suas saudades agora que você vem como um cão arrependido à procura de água da torneira e restos do almoço? Você diz “estou com saudades de você” e eu deveria estar aos teus pés como tantas outras vezes sentindo o mesmo, mas não, você não sentiu o mesmo que eu senti quando eu fiquei aqui sozinho cuidando da casa, dos nossos filhos, da nossa vida.


Você percorreu mundo a fora conhecendo novas bocas, novos corpos, saboreando nova comida, ouvindo nova música e sentindo o novo. Nós que nada tínhamos em comum até tão pouco, agora devemos nos reintegrar como um velho par de almas gêmeas?

As saudades que você sente agora, demoraram a chegar, mas foram as mesmas que eu senti quando você saiu na calada da noite, na ponta do pé, deixando a porta semiaberta, as mesmas que pareciam esmagar meu coração e o meu animo de viver, mas eu tive que continuar e você também tem, continue seu caminho e não me venha com explicações hoje.


O hoje é contemporâneo e o ontem é trevas, de nada me adianta ouvir sobre seus ímpetos aventureiros. Nada me adianta ficar com suas saudades, elas não combinam com essa casa quase sem móveis, então o que me resta fazer com elas?

Devo vendê-las e pagar as contas que atrasaram quando você deixou o time? Deixou o orçamento tão bem calculado para duas pessoas? E você me cobra migalhas, quando eu que pensava que eu era quem havia saído no prejuízo desse relacionamento.

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