Onde está o Lucas?

Era uma noite pacata de terça-feira. Fiz panquecas americanas para o jantar, com calda de caramelo. Ficaram uma delicia, mas eu comi demais e fiquei estendido em uma espreguiçadeira no terraço.


Talvez não tenha sido uma boa ideia, minha irmã estava perto pintando as unhas, ela vive fazendo isso, e minha mãe assistindo a novela. Meu pai chega do trabalho e diz que gostaria de falar comigo.

Nossa, sempre fico com o coração na mão quando alguém diz “quero falar com você” porque isso quer dizer coisa séria. Se fosse besteira a pessoa falaria logo e pronto.

Então minha irmã tratou de carregar o esmalte e dizer “me deixa ir ali”, meu pai falou com minha mãe como se fosse algo que os dois tivessem conversando antes e combinado de falar comigo “droga” pensei, vai ser pior do que eu imaginava.

Meu passado adolescente me lembrou de muitas conversas desse tipo. Há quanto tempo eu não levava um puxão de orelha? No final das contas meu pai falou que eu estava ausente:

_Mas pai eu estou sempre em casa.
_Sua irmã sempre vai ao nosso quarto conversar. Hoje na hora do almoço você quase não disse nada. Algum problema conosco?
_Não pai, eu ando me sentindo ausente também.
_Como assim?
_Sei lá, acho que é uma fase.
_Saiba que eu e sua mãe estamos aqui.

Meu pai, um homem de poucas palavras, disso o que tinha que dizer e saiu. Fisicamente, estou aqui, inclusive bem, mas se formos levar a questão pra outro plano eu não saberia responder, muito pelo contrário, é do meu total interesse descobrir a resposta da pergunta: onde eu estou?

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