Eu Tento

Eu tento nesse esforço inútil demonstrar normalidade, demonstrar ordem, demonstrar que eu não mudei. Eu me esforço tanto nisso e eu não me engano. Talvez a pessoa que eu mais queira enganar seja a mim mesmo.

 
É impossível não mudar quando algo é tirado de você, então quando muitas coisas são tiradas, praticamente ao mesmo tempo, você se sente um espectador da sua própria vida, um coadjuvante sem fala e sem ação naquela cena na qual é preciso um ato de salvação, mas nada pode ser feito.

Todo dia o meu mundo parece estar parado e o que eu levo uma semana para construir, atos externos levam minutos para destruir. Eu não sei mais ser um bom amigo, filho, irmão, aluno, empregado, ficante ou namorado.

Eu não sei mais ser quem eu era. Estou nesse ponto, no meio de um texto, estagnado a repetição dos pensamentos e dos sentimentos, das crises. Esses dias eu não quero ver ninguém, falar com ninguém, eu quero ser ninguém, não falar, não pensar e até deixar de existir por alguns minutos, ir desaparecendo lentamente do mundo dos outros assim como eu desapareci do meu.

Eu fico me dizendo que vai passar e que tudo vai ficar bem, se eu acredito? Tem dias que sim, tem dias que não. Mas eu vou aguentando e respirando e andando e fazendo isso que a maioria das pessoas chama de viver.

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