Gratidão e adeus

Nós não nos olhávamos mais nos olhos há algum tempo, mesmo não havendo muito espaço para desviar. Era uma terça-feira quando notamos os passarinhos fazendo um ninho na árvore diante da janela da sala e foi bom falar sobre uma novidade amena, para variar. Nós até rimos, como não fazíamos há algum tempo.
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Eu cultuava suas mãos, seus pés, seu pescoço, sua nuca, suas pernas, seu cheiro. Tudo era tão perfeito, parecia feito para mim, fazia eu me sentir em casa. Então passou a ser estranho, fazia com que eu me questionasse perguntas que não sabia formular e me sentir culpado depois da gente transar. Porque naquele momento não me sentia mais em casa e sim fugindo.

Por algum tempo, aquele acumulado de pequenos galhos e o som daqueles pássaros me deram algum conforto e a você ouso dizer que trouxeram alívio. Nossa conversa tranquila sobre os novos vizinhos, sobre as mudanças, o nascimento, a beleza dos filhotes saltando de um galho para outro tentando voar.
 
Todo esse tempo, eu achei que estávamos parados, congelados, em hibernação, guardando o que havia de nós para depois. Porque seria um novo começo, mas a vida não para porque não está acontecendo da forma como planejamos ou queremos. Continua correndo, mesmo que não saibamos para onde.

Eu deveria saber então, que não era mais uma criança, que já fazia algum tempo. Os filhotes voaram. Não tínhamos mais isso. O apartamento parecia estar vazio de novo, e, ao mesmo tempo, muito cheio. Fiz minhas malas. Você queria conversar, mas não ia me pedir para ficar e eu também não tinha mais nada a dizer.

Apenas era minha hora de ir. Deixar nossa história para trás, mesmo que ela fosse a única que eu tinha para contar até então. Quis te agradecer por tudo, mas as palavras não saíram da minha boca. Tentei te escrever depois, mas nunca enviei.

Agora, mais um agosto começa, de tantos que já passaram. Estou indo embora de novo, de um outro lar, do jeito que aprendi tão bem. Ainda não sei como ficar. Talvez algum dia. Lembrei daquele que não foi meu único adeus, mas foi o começo de alguns. E, de novo, salto no escuro, no ar gelado da madrugada, apenas para sentir novamente o sol, o calor, quando o dia amanhecer.
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