É inverno porque diz o calendário. Não há vento agitando pipas coloridas pelo céu azul. Da janela, tudo que vejo é cinza, não por chuva, não por névoa. Não é aquele belo acinzentado de uma manhã de dezembro, nem o azul fresco de uma tarde de julho. É uma cor que não conheço, nunca tinha visto, em um dia aleatório, de um mês qualquer.
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Não é assim que tem sido, um amontoado de dias que mais parecem os mesmos? Acordar tarde, passar as horas, dormir fora de hora, quem se importa? É mais fácil para continuar agora, seguir o ciclo, mesmo sabendo que os maus hábitos estão me prendendo cada vez mais. É inevitável pensar, mas ao menos ainda durmo.
Não sei mais fazer café. Meus bolos têm solado. Estou assistindo os mesmos filmes, ouvindo as mesmas músicas e gritando por dentro para que alguém me tire daqui, mesmo sabendo que eu não poderia sair. Não assim, não desse jeito, não agora. Ainda falta tempo, não sei quanto, nunca fui bom em matemática e pelo menos isso ainda continua.
Sempre fui irritantemente otimista, mas sinto que isso está se esgotando. Quem sabe seja uma coisa boa, já que não há céu azul à vista, apenas o vazio cheio de frustração, angústia, raiva, tédio, ansiedade, desânimo, fome, cansaço, aflição e medo.
Tudo isso misturado em uma receita que não saiu como o esperado, mas que ainda alimenta, mesmo que não seja macio e bonito, mesmo que servido com café ruim. Ainda há tempo, eu sei. E enquanto houver, também sei que vai passar.
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