Não fazia sol há dias, na primeira vez que fui visitá-lo. Ele improvisou um varal dentro do quarto para que sua roupa pudesse pegar. "Não há como ser mais íntimo do que isso", pensei. Ali estava eu envolvido pelo guarda-roupa dele. Meias, cuecas, calção de dormir, a camiseta que ele estava usando na primeira vez que eu o vi, um tom de verde que ressaltava os olhos dele. As duas íris mais lindas que eu já tinha visto de perto.
Foto de Issam Hammoudi no Unsplash
Ele empurrou uns livros que estavam na cama, liberando
espaço para que a gente pudesse sentar. Eu estava nervoso. Não era a primeira
vez que eu me sentava na cama com um cara, mas era a primeira vez que eu fazia
aquilo com um cara por quem eu estava apaixonado. "Não posso deixar que
ele perceba", era o meu mantra para disfarçar essa paixão prematura a cada
vez que ele falava comigo. Era impossível quando ele me encarava, me sentia nu
diante daqueles olhos.
Não conversamos muito até que nossos lábios estivessem um
tocando ao outro. O som da respiração ofegante é minha música predileta. Os
movimentos das mãos, minha dança favorita. E o cheiro de roupa lavada se
misturando ao dele, o perfume que eu nunca esqueci. Eu tive que me conter, me
segurar com todas as forças para não ceder aos meus instintos, porque eu achava
que poderia te segurar, caso você fosse como os outros, fosse como eu, que
perde o interesse pela fantasia depois de realizá-la.
Para mim não era uma fantasia, não dessa vez. E se fosse
para você, eu não iria facilitar, porque eu te queria, mas eu queria que você
me quisesse mais. Hoje, anos depois, pegando as roupas no varal, senti o cheiro
do amaciante e ele me levou direto para o seu quarto, naquela noite que eu me
esqueci de tudo, da promessa, das razões, apenas me entreguei para o momento. Revivendo
tudo isso agora, do fundo da minha mente, eu sei que, independente do que
aconteceu depois, tudo valeu a pena.