Aquelas noites

Lembro bem daquelas noites. 17 anos, saindo escondido, te encontrar na rua de trás, debaixo do pé de ipê amarelo. Os sons da madrugada eram o seu gemido nos meus ouvidos, o latido dos cachorros e a brisa gelada que embaçava os vidros do carro aquecido por nossa respiração ofegante. Com você descobri amor e paixão.
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Lembro-me de voltar de cada encontro pisando na ponta dos pés, segurando cada porta atrás de mim para que fechasse da forma mais suave, eu segurava minha respiração, nenhum barulho até chegar até minha cama, encostar a cabeça no travesseiro e suspirar aliviado. Mais um encontro sagrado, guardado. Nosso segredo me deixava feliz, realizado.

Eu não dormia até que você me mandasse mensagem dizendo que tinha chegado a sua casa, dizendo boa noite ou bom dia e até logo. Isso se tornou minha vida, o que eu mais esperava, enquanto assistia aula, enquanto tentava estudar para o vestibular. Eu tentava escrever. Eu mantive um diário, escondido, que eu sempre escrevia tudo, ele era todo você.

Eu cresci. Talvez você também. Minha vida mudou e aos poucos fomos nos desencontrando. Meu mundo se tornou maior do que encontros escondidos na madrugada, mas eu ainda passo por nossa rua, toda mudança me lembra de você, como no dia que colocaram um poste bem no lugar que costumávamos ficar, senti vontade de te ligar, eu sabia que iríamos rir, bolar um plano de quebrar a lâmpada e comemorar nosso feito da melhor forma que sabemos, mas eu deixei para lá.

Como eu poderia esquecer? Você me ensinou tanto. Lembro-me de quando estava triste e comecei a chorar, ficamos apenas abraçados, sua mão passeando entre meus cabelos e você me dizendo que tudo ficaria bem, às vezes sinto falta disso, quando fico mal e lembro que você não pode mais fazer com que eu melhore, mas a lembrança faz, basta lembrar aquelas noites.

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