E se eu nunca mais me apaixonar?

Antes de se levantar e seguir seu caminho, fechar a porta e pôr um fim na gente. Eu te peço que olhe para a pessoa deitada aqui ao seu lado, veja que sou alguém que costumava te fazer sorrir e que em algum momento você pensou que amava, então imploro que seja gentil. Eu esperei muito tempo para viver o que nós vivemos e quais são as chances que eu viva novamente? Eu não acho que eu possa, mesmo que eu queira novamente, algum dia.


Então, eu te peço, se essa é nossa última noite, ao menos me abrace mais do que como um amigo, espere o dia amanhecer e acabaremos o fingimento. Esse é meu último desejo. O tempo de ser honesto já passou. Eu vi em seus olhos tudo o que eu precisava saber, eu já não sou mais o suficiente, existe outro alguém a quem você contempla no fim do dia, mas eu te clamo que fique aqui pelo menos uma última vez e termine as coisas apropriadamente.

Esse poderia ser você, deitado aqui ao descaso em lençóis antes tão acolhedores, mas que agora tratam minha pele como um corpo estranho, com frieza e aspereza. Aquele porta-retratos barato com a nossa foto, antes tão inestimável, agora realmente parece justificar seu preço, enquanto figura essa cena, escondido na cômoda em meio a peças de roupa sujas. Talvez algumas delas sejam dele, da última vez que ele esteve aqui, pelas minhas costas.

Você provavelmente não entende, porque conquistar seu coração foi tão fácil, você entregou ele para mim como alguém que entrega um panfleto na rua. Mas eu não tenho outro além do que está em suas mãos. Me importa como você vai tratá-lo neste momento. As injurias que você pode deixar serão minhas para arcar. Qualquer dano permanente será meu fardo a carregar. E se eu não nunca mais me apaixonar?

Leia também: Ressaca