O preço da prostituição

Carla é travesti. Essa afirmação por si só determinou muitas coisas na vida de Carla. Ela é prostituta, começou cedo, tinha que se sustentar depois que foi expulsa de casa. Segundo ela, 90% das travestis trabalham ou trabalharam com prostituição.

Fonte: Internet

“_ Se estamos nessa vida é por imposição da sociedade.” Desabafa. Uma vida que não é fácil, como se diz. Brigas por pontos de prostituição é só uma das muitas dificuldades da profissão.

Carla também está vulnerável a violência. Tarde da noite, quando as famílias tradicionais estão recolhidas no lar, as prostituas começam o expediente. Mais cedo ou mais tarde, os clientes vão chegando, um a um.

A luz do dia, são maridos, pais, profissionais. Na calada da noite, são mortais em busca de satisfação pessoal e sexual. As profissionais do sexo estão lá para atendê-los, mas não é sempre que sai como o planejado. 

“_Outro dia uma colega foi esfaqueada durante o programa”, relata Carla. Você pode se perguntar, como alguém entra nessa vida?! Segundo Carla não há muita opção quando o mercado de trabalho não aceita alguém que embora tenha nascido homem, se vista e se identifique como mulher.

Sem trabalho, precisando sobreviver sozinhas nas ruas, essas pessoas recorrem a essa prática antiga, a prostituição. A sociedade pode fechar os olhos e ignorar, tentar coloca-las a margem, mas lá estão as prostituas, na esquina.

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Elas não precisam entrar em escolas, hospitais ou repartições públicas. Professores, médicos e outros profissionais vão ao encontro delas. No entanto, Carla confessa que não é fácil, é uma vida de tristezas.

Sair não é uma opção fácil. Algumas tentam outras atividades, mas a prostituta já está encravada na figura da travesti, já é um estereótipo. “_Pagamos um preço muito alto”, lamenta Carla.

Por baixo dos óculos escuros ela tenta esconder os olhos marejados, não pode borrar a maquiagem. Não pode demonstrar dor ou tristeza. “_Tem que ser forte, porque o mundo todo quer te ver por baixo”, conta.

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Atualização (30.11.2016): Esse texto foi inteiramente baseado na entrevista com a personagem principal. Carla é um pseudônimo, pois a entrevistada preferiu não se identificar. Prostituição não é um tema do qual eu tenha muito conhecimento, inclusive eu não sabia, na época que escrevi o texto, que o caso de Carla pode ser considerado exploração sexual, devido ao que ela mesma descreveu no texto. No mais, o texto tem intenção apenas de expor um relato que me foi dado durante uma entrevista, sem juízo de valor algum. Estou aberto a críticas construtivas sobre o tema.