Se valorizar

Muito tem se falado ultimamente sobre sermos aqueles que não demonstram sentimentos. A geração da queda de braço para admitir que gosta ou está apaixonado por alguém. Como chegamos a essa bagunça? Talvez tenha sido tateando entre uma rede social e outra e as identidades que deixamos ou queremos deixar expostas por aí.

Sobre sermos independentes, fortes e não precisarmos de ninguém. Ou sobre sermos carentes, necessitados, a procura de alguém que nos complete, quando muitas vezes isso está no discurso e na superfície, mas nunca em nossas atitudes, nunca em nossos gestos ou em nossos corações.

Talvez a gente tenha aprendido a se proteger, desse grande mal que os outros podem nos causar. Porque as pessoas tendem a causar grandes danos mesmo, para si e para os outros, quando agem de forma inconsequente.

O que talvez também se tornou uma ideia comum entre nós é que ao fazer isso estamos nos valorizando. Mas que valor existe em não sorrir? Em não abraçar? Em dizer não? Em se negar? Nossos valores não estão em ser mais pessoas honestas com os outros e com nós mesmos? Não fingindo sentimentos, não enganando ou forçando um gostar que não existe da forma que estampamos para o mundo todo ver?

Se valorizar é ficar em uma relação sem amar o outro só para suprir nossas necessidades sejam elas quais sejam e pular fora quando for conveniente? Se valorizar é nunca se deixar envolver, pular de pessoa em pessoa sem chance de aproximação? Ou quem sabe até se guardar saber-se lá para quem porque ninguém parece bom o suficiente?

O que é se valorizar se não tentar ser sempre uma pessoa melhor do que se foi ontem? Do que não querer mal a ninguém e levar isso em consideração quando um ato nosso pode causar dor aos outros? Significados podem mudar com o tempo. Valores também. Mas a vida continua curta e o preço pela coisas que deixamos de viver continua alto.