Ele e eu

Ele gosta de Beatles e eu não consigo parar de cantarolar Simone e Simaria. Outro dia ele me chamou para assistir um documentário alemão e eu dormi. Ele disse que nunca tinha assistido Titanic e eu fiz questão de corrigir esse absurdo. "A cara que tu faz nas cenas românticas é impagável", ele disse, tirando sarro do meu romantismo incurável.


Ele escreve sobre questões sociais e a situação na Síria e eu, ah, eu escrevo textos bobos sobre amor e relacionamentos. Ele me fez comer vieiras pela primeira vez, preparadas por ele mesmo. Enquanto eu ainda me considero tão sofisticado por saber preparar macarrão ao molho pesto. E mesmo com tantos atributos, ele não é pedante.

Ele entende de tudo um pouco, dá ouvido a todos, com atenção de quem quer realmente ouvir. A gente se conheceu por acaso, como todas essas coisas costumam ser. Sentimos um "click", talvez o som das nossas diferenças esbarrando, mas a gente continua aqui. Eu e ele, de mãos dadas, nessa exposição de arte, onde ele entende tudo e eu acho que talvez o artista estivesse apenas viajando um pouco.

Ele ri de todas as besteiras que eu digo e mesmo que eu não consiga entender seu humor sofisticado, eu adoro o jeito como ele conta piada, então eu rio e quando me dou conta ele é quem tem roubado todos os meus sorrisos ultimamente. Isso é inédito, a receita para um desastre, mas tem sido tão excitante que não viver seria um desperdício. Desafiei a mim mesmo, quero ver o quão longe ele e eu podemos ir.

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