Finado coração

“O seu cheiro está no ar. Nossos lugares estão espalhados por aí. Todo mundo fala seu nome. Todos os carros que passam na rua são iguais ao seu e dentro de mim existe um padrão, sempre me magoar, mas e se um dia a dor for tão forte a ponto de meu coração mais nada sentir? Acho que atingi esse ponto”, escreveu Luís em seu diário.


Nos últimos dias, ele tem estado pra lá e pra cá,com uma vontade de algo que ele mesmo não sabe do que é. Ele já achou ser saudade do passado e não era, já achou ser a angustia pelo futuro incerto e não era. Talvez o problema esteja no presente, que parece estar imóvel, inativo. Há quem chame isso de morte.

Talvez Luís precise de tempo pelo luto de seu coração, que ele alega ter morrido, mas não é tão piegas ligar o físico ao emocional dessa maneira? Talvez ninguém saiba o que é ilusório e o que é real em termos de relacionamento e amor.

Junto com aquele velho romance, morreu aquela velha vontade de amar. Junto com aquele beijo familiar, morreu aquela vontade de beijar. Junto com aquele abraço que dava sentido, morreu o sentido de procurar. Até que ponto alguém é inesquecível? Mas vou continuar tentando, pensou Luís.

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